Estudo encontra nova linhagem do zika no Brasil e alerta para risco de epidemia

Uma nova linhagem do vírus da zika foi descoberta circulando recentemente no Brasil por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia. Em estudo publicado no início de junho no periódico International Journal of Infectious Diseases, a equipe alerta para o risco de retorno da epidemia, que teve seu pico no Brasil entre 2015 e 2016.

Segundo dado compartilhado pela própria Fiocruz, desde 2015 nasceram 3.534 bebês com Síndrome Congênita da Zika (SCZ) no Brasil – complicação que pode gerar microcefalia em filhos de mães infectadas pelo vírus.

Nova linhagem

O estudo da Fiocruz constatou o surgimento, em 2019, de uma linhagem africana do vírus da zika em circulação no Brasil. Pela ausência de anticorpos da maior parte da população, há risco de epidemia.

São conhecidas duas linhagens do vírus zika: a asiática e a africana (subdividida em oriental e ocidental). No estudo, os pesquisadores analisaram 248 sequências brasileiras submetidas a bases de dados desde 2015. Até 2018, os dados genéticos encontrados eram majoritariamente cambojanos (mais de 90%), proporção que mudou radicalmente em 2019, quando o subtipo oriundo da micronésia passou a ser responsável por 89,2% das sequências.

O que mais preocupou os pesquisadores, porém, foi a identificação do tipo africano no Brasil. Até então inexistente, ele foi detectado em 5,4% das sequências e mostrou ter atingido regiões distintas do território nacional.

“A linhagem africana foi isolada em duas regiões diferentes do Brasil: no Sul, vindo do Rio Grande do Sul, e no Sudeste, do Rio de Janeiro”, informa o estudo.

A distância geográfica e a diferença de hospedeiros (uma foi encontrada em um mosquito “primo” do Aedes aegypt, o Aedes albopictus, e outro em uma espécie de macaco) sugerem que essa linhagem já está circulando no país há algum tempo e pode ter potencial epidêmico, uma vez que a maior parte da população não tem anticorpos para essa nova linhagem do vírus.

Hoje, o zika está controlado no país e apresenta número de casos muito inferior a outras arboviroses (doenças causadas por arbovírus).

Segundo o Ministério da Saúde, em 2020 foram notificados 3.692 casos prováveis de zika (taxa de incidência 1,8 casos por 100 mil habitantes), em detrimento de 47.105 casos prováveis de chikungunya (taxa de incidência de 22,4 casos por 100 mil habitantes) e 823.738 casos prováveis (taxa de incidência de 392,0 casos por 100 mil habitantes) de dengue.

Porém, no caso de uma nova epidemia, esses números podem se alterar rapidamente – segundo alerta dos pesquisadores da Fiocruz.

Novo coronavírus ofusca outras doenças

“Atualmente, com as atenções voltadas para a Covid-19, este estudo serve de alerta para não esquecermos outras doenças, em especial zika. A circulação do vírus no país, bem como a realização de estudos genéticos devem continuar sendo realizados a fim de evitar um novo surto da doença com o novo genótipo circulante”, expõe Larissa Catharina Costa, uma das autoras do estudo.

Para analisar as sequências genéticas, a equipe utilizou uma ferramenta de monitoramento genético desenvolvida por pesquisadores vinculados ao Cidacs e ao Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC); Universidade Salvador (Unifacs) e a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).

“Pegamos esses dados e analisamos, selecionamos as sequências do brasil e mostramos a frequência desses tipos virais ano a ano. O principal achado é que vemos uma variação de subtipos e linhagens durante os anos, sendo que em 2019 há o aparecimento, mesmo que pequeno, de uma linhagem que até então não era descrita circulando no país”, explica Artur Queiroz, um dos líderes da pesquisa.

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